07/08/2004 No jornal de noticias:
Na semana passada apresentamos aqui cenários do possível e previsto fim da civilização do petróleo que levam a supor que "a festa do ouro negro está a chegar ao fim", sendo previsível o aumento das tensões políticas em várias partes do globo, não apenas no Médio Oriente mas na Rússia, Mar do Norte, no Canadá e na América do Sul. É algo que é fortemente considerado por especialistas e analistas em livros tão recentes como "The Party's Over" de Richard Heinberg, "The End of Oil" de Paul Roberts e de "Resource Wars: the new landscape of Global Conflict" de Michael Klare, nenhum ainda traduzido entre nós.
De acordo com as ideias estabelecidas e aceites, o petróleo formou-se lentamente em bacias sedimentares calmas e na ausência de um meio oxidante, em que restos fósseis de matéria orgânica sofreram processos de alteração e enriquecimento em carbono e hidrogénio, formando os hidrocarbonetos. É importante dizer que este processo se deu em épocas geológicas passadas e que a concentração do mesmo, nos reservatórios hoje explorados, foi auxiliada por processos e armadilhas geológicas que hoje guardam o petróleo e o gás natural que exploramos.
Portanto, o "ouro negro" é finito e está confinado aos jazigos em exploração, aos ainda por explorar e nos já explorados, em que o petróleo foi usado como fonte energética nos últimos 110 anos, libertando o penoso dióxido de carbono para a atmosfera. Todo o petróleo criado pela decomposição de animais e vegetais ao longos dos milhões e milhões de anos de alguns períodos geológicos, apenas para poder ser gasto em pouco mais de 150 anos!
Algumas observações feitas por geólogos russos do século passado, indicaram que muitos hidrocarbonetos tinham uma origem mineral, das profundidades da Terra e nem sempre estavam ligados a processos de degradação biológica e eram libertados aquando de movimentos tectónicos. A ser assim teríamos explicados alguns fenómenos observados em regiões petrolíferas do Mundo como o enchimento natural de poços após terem sido dados como esgotados, a libertação de estranhos gases naturais quando da ocorrência de sismos, alguns jazigos associados a rochas de elevadas temperaturas (ígneas) e sujeitas a fortes pressões (metamórficas), e muitas anomalias geoquímicas não compatíveis com a origem biogenética dos hidrocarbonetos.
De notar que esta sugestão não foi aceite no mundo ocidental pelos cientistas a trabalhar na indústria do petróleo e só em finais da década de setenta, do século passado o grande astrofísico inglês Thomas Gold, falecido em Junho passado, propôs que muitos hidrocarbonetos, em particular o metano existente no interior do planeta seriam relíquias da Terra primordial, substâncias trazidas dos cometas e outros corpos cósmicos que hoje se sabe serem astros ricos nestes materiais que tiverem obviamente uma origem inorgânica.
Apesar de ter estudado fortemente o assunto, Gold apenas viu as suas ideias a serem consideradas pelo governo sueco, que financiou os furos numa cratera de impacto em terrenos graníticos, onde foram encontradas mais provas da origem inorgânica do gás metano. Estranhamente, ou não, Gold sempre encontrou a oposição das companhias petrolíferas. A ser verdade a sua hipótese, que falta provar, as reservas de hidrocarbonetos dariam para sustentar, durante milhares de anos uma civilização planetária ainda mais consumidora de energia que a actual. Na próxima semana veremos o que se passará depois do petróleo.
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